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Mickey Mouse octogenário

Sobre a arte de envelhecer, em 26/11/2008

Conheci um senhor velho com olhar de guri. Visto com zoom, seu rosto apresenta manchas, saliências, uma cara com sinais de uso, mas os olhos, ignorando o peso das pálpebras, fitam com picardia. Na maturidade, as cartilagens continuam crescendo, tornando-nos caricaturas de nós mesmos. Viramos duendes, bruxas, narigudos e orelhudos. Apesar disso, fui fisgada pela vivacidade daqueles olhos, tão diferentes daqueles, arregalados através de cirurgias plásticas, ou apagados pela vida bovina que lhes desenvolve catarata na alma.

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26/11/08 |
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Comendo livros

Sobre leitura e minicontos

Ainda guardo em mim alguns raciocínios infantis que me induzem a equívocos. Um deles é ler as coisas no seu sentido literal. É esse tipo de pensamento que pode levar uma criança a pensar que todas receitas contém chá e sopa entre seus ingredientes, já que colheres disso são sempre mencionadas, e que sapatos de salto são para saltar. Foi por isso que li enviesado uma manchete da capa da revista Claudia que dizia: “A dieta dos Best-sellers”.

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12/11/08 |
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A promessa das máquinas

Sobre o trabalho doméstico, Revista TPM

 Eu tinha duas famílias prediletas, ambas do futuro: Os Jetsons, um desenho animado, e os Robinsons, do seriado Perdidos no espaço. Achava-se que acabaríamos usando macacões prateados colados ao corpo e botinhas que finalizavam essa espécie de malha unissex. Era década de 60 e na televisão o porvir era representado igual ao presente, mudando só o figurino. Os homens ainda trabalhariam fora, enquanto as mulheres cuidariam do lar, mas haveria um atenuante: os robôs. Os Robinsons tinham um exemplar macho e os Jetsons tinham Rosie, uma eficiente empregada automática.

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01/11/08 |
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Amores brutos

Sobre homens que matam suas amadas

“Quem ama não mata”. Essa era a frase das feministas, décadas atrás, protestando contra a matança de mulheres pelos seus homens. A afirmação é convincente, mas será que se trata de amor nesses casos?

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29/10/08 |
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Professora Simone

Homenagem a uma mestra

O nome dela era Simone, professora de Português. Ela não me tinha em grande conta, eu a achava poderosa. Entre nós houve apenas um momento marcante: certa ocasião, envergonhada de ser tão sonsa, fingi que havia colado. Fingi para mim mesma, já que o nervosismo da pretensão de transgredir me enevoava a visão e, de fato, não consegui enxergar nada na prova da colega. Se o feito não tinha sido grande coisa, pelo menos tentei fazer valer a intenção, contando vantagem entre meus colegas na saída da prova. Não é preciso dizer que a professora ouviu e tomou as medidas que lhe cabiam. Inicio e fim da minha incipiente carreira criminal. Conto isso para que não se julgue que se tratava de relação de mútuo afeto ou camaradagem, que recubra ou mascare o caráter simplesmente pedagógico do que se segue.

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15/10/08 |
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XXY

Sobre o filme XXY

 Assisti, com imperdoável atraso ao filme argentino “XXY“. Imperdível lição do quanto nossa identidade sexual é uma questão em aberto, que passamos a vida tentando, inutilmente fechar. A intolerância com todo tipo de ambigüidade e ambivalência por parte da sexualidade alheia é a mesma que temos com as indefinições de cada um de nós.

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06/10/08 |
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Estrangeira digital

Sobre os que nasceram antes do computador

Na minha infância a tevê tinha hora para começar e outra, triste e trágica, para terminar. Agora ela está sempre lá, disponível a qualquer hora em que a solidão ou a falta de sentido da vida bater. Graças a ela, os desesperados têm um balcão de bar sempre a mão para embriagar a alma exausta. Mais do que a televisão, agora existe a rede, a web, a internet, a teia, a trama que nos liga a todos e a tudo a qualquer hora.

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01/10/08 |
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Quem é o novo macho?

Sobre o livro Canalha! de Carpinejar

Imagine se nossos seios excitados ficassem eretos sob a blusa, alardeando que uma fantasia erótica atravessou o pensamento, numa reunião de trabalho! Como nos sentiríamos se a cada mínimo gesto suspeito as amigas gritassem “sapatona!”. Com os homens é assim. Não temos dúvidas de que ser mulher sempre foi difícil, mas achamos que ser homem é fácil. Errado. Na dúvida, pergunte ao Fabrício Carpinejar. As respostas virão sob forma de crônicas engraçadas e líricas, em seu livro “Canalha!” (Ed. Bertrand Brasil).

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01/10/08 |
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Efeito borboleta

Sobre a ópera Madame Buterfly

Dois primeiros encontros na minha vida, com a ópera ao vivo e com Madame Butterfly. A obra estreou ontem no Teatro Solis, em Montevidéu, e eu confesso que mal lhe conhecia a trama. Da história eu só tinha uma breve notícia sobre desengano amoroso e final trágico. Mas ambas foram muito impressionantes.

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21/09/08 |
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O gato e a montanha

Sobre a leitura da Montanha Mágica

Quando vejo essas entrevistas que são feitas a personalidades importantes, fico fantasiando que aconteceria se algum dia eu fosse suficientemente importante para que me perguntassem qual meu livro preferido, filme, prato, palavra, lugar. Respondendo mentalmente à entrevista que nunca me fizeram, o que me ocorre é que nessas horas não lembro de nada que li, de nenhum filme que vi, de nada relevante, pânico de opinar.

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