Bruxas
Sobre um crime feminino insuportável
Numa mesma penitenciária, Anna Carolina Jatobá, Suzane Richthofen e Valdecina Alves de Almeida pagam seus pecados. Todas são responsáveis por crimes que impactaram a opinião pública: o assassinato de uma enteada, dos pais e o selvagem espancamento de um bebê, respectivamente.
Cadáveres de plástico não morrem jamais
Sobre a exposição educativa que utiliza cadáveres polimerizado
Nós enterramos nossos mortos. A cremação, que é a minha opção, está ganhando adeptos todos os dias. Mas esses não são os únicos destinos possíveis dos cadáveres: os egípcios e os incas mumificavam seus entes queridos, houve povos que os expunham aos animais para serem comidos, e inclusive ainda existe o canibalismo ritual dos mortos. De qualquer forma, o cadáver sempre foi objeto de reverência, o que fazer com ele nunca foi banal nem dum descarte fácil.
Sempre teremos Paris
Sobre insatisfação feminina e o filme Revolutionary Road
April e Frank Wheeler consideravam-se especiais, eram irreverentes, ele lutou no front da segunda guerra, ela queria ser atriz. A primeira pergunta que ela dirige a ele quando se conhecem: – o que você faz? Ele responde de forma literal, dizendo no que trabalha. Ela o corrige, não está interessada na realidade, mas no sonho: o que ele quer ser? Frank diz que está confuso, procurando se encontrar.
Reflexões equinas
Sobre escolha de caminhos
Embora no resto do Brasil se acredite que toda gaúcha é uma amazona, raras vezes montei a cavalo. Acho a idéia mais fascinante do que a prática. Sinto-me sobre um cachorro gigante onde não consigo olhar na cara para saber se está disposto a me levar ou derrubar. Geralmente eles são dóceis e nos levam a bons passeios, mas eles têm lá suas idéias e uma delas é “voltar para casa”.
Benjamin Button
Sobre as fases da vida
As fases da vida podem ser vistas como um círculo: no princípio, o desafio passa por aprender a não urinar e defecar nas calças; a missão seguinte, quando já se é um pouco maior, seria conseguir amigos; passada essa fase, o maior objetivo passa a ser fazer sexo; resolvido isso, a tarefa seguinte é conseguir dinheiro. Já na meia idade, a conquista, novamente, é fazer sexo; depois vem a fase de fazer amigos e o derradeiro desafio da vida de um homem consistiria em não fazer as necessidades nas calças.
Nós canhotos
Sobre essa condição como metáfora
Quem me conhece sabe que possuo duas mãos esquerdas. Apenas a minha melhor esquerda fica do lado direito, o que sempre me fez passar por destra.
Sorte no jogo
Sobre o sonho de ganhar na loteria
Sabe aquela piada do judeu que pede a Deus que o ajude a ganhar na loteria, pois passa fome, tem muitos filhos, pais doentes e outras desgraças. Ao que o Senhor lhe responde: – Mas Isaac, pelo menos compra um bilhete! Não é por economia que não compro bilhete de loteria: é por total descrença de que a providência tenha alguma boa surpresa guardada para mim. Quanto às ruins, tenho absoluta certeza que me espreitam, e se atirarão sobre mim como um felino de tocaia.
Gris
Sobre cabelos brancos e auto-imagem
Estou reconciliada com meus cabelos. Os anos de litígio encerraram-se com um acordo diplomático. Não bastasse a cor original, um castanho sem graça e os fios grossos e indomáveis, ainda os brancos tomaram conta da cabeça aos trinta. Durante as décadas de discórdia, as batalhas incluíram todos os tons de vermelhos, cobres e mechas possíveis e imagináveis. Cansada das labaredas vermelhas dessa guerra de tintas, decidi parar de pintar faz uns quatro anos.
Memórias felinas
Sobre o Garfield que existe em todos nós
Meus gatos sempre abusaram de mim. Faziam gato e sapato, para ser redundante. Koshka, minha segunda cria felina, parecia dar discursos. Mesmo sem entender o gatês, eu sabia que ele estava reclamando do meu tempo de ausência, embora os dele pudessem durar dias. Ele era louco por briga e rabo de saia, suas temporadas mais caseiras coincidiam com olho purulento, orelha rasgada ou pata inchada. Entre minhas atribuições de escrava humana estavam, obviamente, os curativos. Minha primogênita, a Fera, era confinada num apartamento, o que só aumentava seu poder sobre mim, ela decidia em que posição eu iria dormir, sentar e comer, além de que sua farra noturna me exauria. Felinos passam o dia dormindo, assim ficam prontos para as noitadas. No caso da Fera isso incluía uma bolita de gude, que ela mantinha escondida e resgatava para fazer rolar pelo parquê e bater nos cantinhos nas altas horas da madrugada. Nunca consegui tirar a bolita dela, sumia providencialmente assim que eu me levantava, acho que ela guardava na boca…
Ciúmes
Sobre esse sentimento, Revista TPM
Catherine Millet gostava de entregar-se aos homens. Teve muitos, principalmente em grupos, com a conivência de seu marido. Ela publicou sua experiência num best seller chamado: A vida sexual de Catherine M., em 2001. Já o esperado sucessor desse relato picante foi surpreendente: chama-se Dia de sofrimento (no Brasil só em 2009) e narra as dores que sentia, consumida pela angústia da descoberta dos encontros do marido com suas sucessivas amantes. Não se trata de hipocrisia da parte dela, nem de cegueira relativa a seus próprios atos, acredita que assumir uma sexualidade muito livre não nos impede de cair na armadilha assustadora do ciúme e não nos protege de antemão contra a dor que a acompanha.