Me fraguei!
Sobre o Dicionário de Portoalegrês e o tempo das expressões populares
Readquiri meu exemplar extraviado do Dicionário de Porto-Alegrês, do prof. Fischer, e descobri que sou do tempo em que um bodoso qualquer, botava a maior beca e saía bem belo por aí! Só para ficar na letra “b”. A compilação de expressões próprias da nossa cidade é obra séria, mas de se finar de rir. Estava eu nos trâmites disso, quando chegou minha filha adolescente com uma amiga. Comecei a ler para elas alguns verbetes que eram seguidos de comentários: é bem assim que vocês falam, minha mãe também usa essa expressão de velho… Ou o mortal: essa até eu uso. Fiquei encasquetada. O que pensava ser um recorte no espaço, revelou-se um lapso de tempo retratado na linguagem…
Filha de criação
Sobre abusos cometidos contra crianças
Filhos de criação vivam ligados a famílias para quem trabalhavam como empregados, mas não recebiam salário. A acolhida que os livrava da miséria de origem incluía moradia, comida, roupas usadas e, com muita sorte, teriam direito a um colégio noturno e lugar na mesa às refeições. Alguns dentre estes, podiam crescer e construir uma vida própria, casavam ou aprendiam algum ofício e partiam, mas em inúmeros casos eram, por isso, considerados traidores. Infelizmente, a maioria acabava incumbida de auxiliar na velhice dos donos da casa, liberando os filhos “de verdade” para seguir seus destinos.
Diga-me como te chamas e eu te direi quem és
Sobre o direito ao uso do nome social para travest
Como dizia Simone de Beauvoir: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. O mesmo vale para os homens. Nasce-se de um sexo, com órgãos dotados para uma determinada missão biológica, reprodutiva, mas viver é sexuar-se, assumir uma identidade de gênero, feminina ou masculina. Essa é uma das mais árduas tarefas de uma existência.
Terra de Nanicos
Sobre a violência no trânsito e o filme Transformers
Somos vulneráveis e quebradiços, demasiado pequenos para a terra de gigantes que construímos. Nosso mundo é hostil aos homens sem armadura, nus de máquinas. Os prédios arranham os céus, muitas ruas requerem fôlego de atleta para sua travessia, as distâncias nos exasperam, queremos ir e vir sem barreiras. Nossos passos são curtos, lentos, somos inválidos frente a tanta grandeza. De certa forma somos cadeirantes, mesmo que nossas pernas sejam saudáveis. Precisamos próteses.
Velhas histórias, novas personagens
Sobre o filme O Segredo de Brokeback Mountain
“O Segredo de Brokeback Mountain”, filme candidato ao maior número de Oscars da temporada, é uma lacrimógena história de amor, daquelas que nos fazem pensar que a paixão é uma experiência para poucos. No caso, o idílio é entre dois homens.
O neto de Sherlock Holmes
Sobre o seriado House
Sou hipocondríaca o suficiente para emprestar, uso meus parcos conhecimentos de medicina para diagnósticos estapafúrdios: dor de cabeça em criança é meningite, em adultos é AVC, espinha é câncer de pele, todo sintoma é grave, toda doença é letal. Por isso recorro aos médicos, figuras encarnadas do salvador, que possuem os recursos para prevenir e remediar o mal temido. Nada nos estranha que recorrentemente eles tenham se transmutado em heróis, personagens literários e anti-heróis, como é o caso do célebre Dr. House, da série televisiva que leva seu nome (no Brasil, pode ser vista no Universal Channel ou na locadora mais próxima).
Olhos grandes
Sobre o filme Cria Cuervos de Carlos Saura
Passaram-se 30 anos desde nosso primeiro encontro. Foi numa sala de cinema, e desde então eu soube que ela era minha melhor tradução. Quando me chegou a informação de que poderia vê-la novamente, confesso que vacilei. Na hora do encontro um friozinho na barriga denunciava o temor de reviver a emoção que ela me causara. Mas já no primeiro impacto de seus grandes olhos negros, nos quais novamente me perdi, soube que o efeito havia se renovado. Cria Cuervos, o filme de 1976 do diretor espanhol Carlos Saura, finalmente disponível em DVD, ainda continha a essência da minha infância.
“Fazer um câncer”
Sobre as causas psicológicas das doenças orgânicas
Woody Allen escreveu certa vez sobre as palavras mais maravilhosas que ele já escutou: “É benigno”. A Zero Hora tem publicado histórias de mulheres que foram informadas do contrário, descobriram estar com câncer de mama. Com diversos graus de proximidade, muitos de nós vivemos histórias como as delas.
O filho do Homem Aranha
Heróis 14/11/07
Se você adquirir uma roupa de super-herói para seu filho, provavelmente haverá nela uma etiqueta solicitando que a criança seja alertada de que se trata de um brinquedo, que não habilita a voar de verdade. Dia 9 de novembro, Riquelme dos Santos, um menino catarinense de 5 anos, trajando sua imaginação e uma camiseta do Homem Aranha, encontrou coragem para salvar uma bebê do casebre em chamas da sua vizinha, provavelmente porque ninguém o avisou disso. Ele não morreu por um triz. Por isso crianças pequenas precisam brincar com alguém de olho nelas.
Dia das bruxas
Sobre o Hallowen e o medo que temos das crianças
Hoje é Halloween, no Brasil, Dia das Bruxas, ou, para alguns, Dia do Saci. A data é originária do calendário celta, celebração de um momento em que os portais que separam vivos e mortos se abrem, possibilitando cultos, homenagens, rituais, festas e outros trânsitos. Os americanos a transformaram num carnaval de tintas sinistras, góticas e noturnas, mas tudo isso se torna uma brincadeira de crianças.