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Jornalismo-Arte

Sobre o livro de Eliane Brum, A vida que ninguém vê

Já foi notícia a vida real de anti-heróis absolutos, antônimo dos famosos insossos que dão as Caras pra gente olhar. Nas colunas publicadas ao longo de vários sábados de 1999, neste jornal, a jornalista Eliane Brum foi desvelando “vidas próprias, desacontecimentos, não fatos, antinotícias, anonimatos”, fazendo exatamente o inverso do que se solicita que os jornalistas façam: manter-nos a par do que é importante e imprescindível de saber. Você pode reencontrar a beleza desses textos no livro “A Vida que Ninguém Vê” (Arquipélago Editorial, lançado ontem).

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23/08/06 |
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homens livro

Sobre Fahrenheit 451

Há muitos anos espero a oportunidade de rever um dos meus filmes mais queridos que acaba de chegar às locadoras. É “Fahrenheit 451” (François Truffaut, 1966), baseado no clássico de Ray Bradbury, escrito em 1953. O título alude à temperatura na qual os livros entram em combustão.

             Bradbury projetou, para um futuro não muito distante, uma sociedade alienada, onde a população idiotizada era mantida distante de qualquer coisa que pudesse gerar angústias, dúvidas ou tristezas. Uma sociedade de semi-analfabetos, alimentados cotidianamente pela ilusão de participar de uma programação televisiva simplória e realista. Contentavam-se com metas medíocres, como a aquisição de objetos da moda, o aumento da capacidade de consumo, o cuidado com a auto-imagem. Também se dedicavam à vida social, baseada em conversas fúteis, principalmente sobre TV. Para garantir um estado de espírito compatível com essa rotina bovina tomavam remédios regularmente. Sentimentos e emoções eram proibidos, nenhuma manifestação artística era suportável. Os livros, remanescentes clandestinos de um passado recente, Continue lendo…

Quem está falando?

Sobre textos apócrifos na internet, assunto do livro Caiu na Rede

Sabe aquela famosa poesia da Clarice Lispector, “Não te amo mais”, que quando lida de cima para baixo é o texto de um fora e em direção contrária torna-se uma declaração de amor? Não é dela, que nem era poeta, é de autor anônimo. E a tão divulgada crônica “Bunda Dura”, de Jabor, ou “Nem fodendo”, do Millôr? Idem. Além deles, Veríssimo, Quintana e Borges, entre outros, assinam involuntariamente textos que os internautas passam entre si, muitos deles escritos por autores anônimos. Sofrem desse mal até excelentes escritos de autores nada anônimos, como Martha Medeiros ou Kledir Ramil, que encontram na rede suas palavras assinadas por Veríssimo. Àqueles que introduzem o equívoco, deve parecer que ele é o patrono do humor.

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06/08/06 |
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Prisão Domiciliar

Violência urbana

Só saia de casa à noite se for indispensável. Ao entrar e sair de seu domicílio verifique o território. Crianças e jovens devem circular sob tutela. No transporte público, observe os outros passageiros, jamais descuide seus objetos pessoais. Na rua, detecte atitudes suspeitas e afaste-se. Instale grades, cercas elétricas, câmeras, cães e contrate um serviço particular de policiamento armado. De carro não abra os vidros, não pare. Viva em condomínios ou bairros fechados. Se ameaçado, obedeça. Pensando bem, não saia de casa de dia também, só se for indispensável. 

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26/07/06 |
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Mais um muro que cai

Sobre a guerra em Israel, crônica não publicada

O Estado de Israel quase foi meu destino. A idéia da terra prometida serviu para minha família como possibilidade de refúgio, de um lugar onde enfim deixaríamos de ser estrangeiros. Por circunstâncias da vida, o projeto de imigração não vingou, mas sempre olho para lá como uma das vidas que não tive. Parentes meus que constituíram as primeiras levas de sionistas deram trabalho e vidas para esse sonho: acreditava-se que era possível constituir uma sociedade diferente, onde a intolerância fosse impraticável e a ganância algo sem sentido. Tendo perdido tudo tantas vezes, seus seres queridos, seu patrimônio e sua dignidade, aos judeus seria possível compreender o que é que realmente vale nessa vida.

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18/07/06 |
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Automóveis pós-individualistas?

Sobre o filme infantil Carros

Depois de assistir Carros, último filme de animação da Disney-Pixar, você se dirige ao estacionamento e quase cumprimenta os veículos. Não é um sentimento tão estranho: no trânsito, em geral tendemos a confundir o motorista com seu veículo dizendo coisas como: “aquele Uno está louco!” ou “o quê aquela Pajero está pensando que é?”.

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02/07/06 |
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Corpos

Sobre a imagem corporal

Nesses dias de copa os jogadores de futebol colocam seus dotes físicos a serviço do orgulho nacional. O corpo do esportista é objeto de admiração, mas às custas de inclemente exigência, vide a comoção nacional pelo sobrepeso de Ronaldo. Eles encarnam nosso desejo de transcender os limites da capacidade física, não importando o quanto isso possa doer. Deles, qualquer falha é imperdoável.

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28/06/06 |
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Feiúras

Sobre o livro A vida sexual da mulher feia, de Claudia Tajes

Vocês conhecem a Jú? Trata-se duma mulher feia, criada pela escritora Claudia Tajes, em seu livro “A vida sexual da mulher feia” (Agir, 2005). Jú, Jucianara, porque nem o nome possui encanto, é devotada ao amor e à comida, mas nem um nem outro saboreia, ambos são devorados e a devoram. Jú não é feia porque é gorda, mas porque é escroncha, além disso é ácida em suas observações e demolidora na autocrítica.

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14/06/06 |
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A outra FIFA

Sobre os que não gostam de futebol

Fui incumbida de uma tarefa, embora constrangedora, necessária e de utilidade pública. Trata-se duma revelação: a da existência da FIFA, não a conhecida, mas outra. A Federação dos Indiferentes ao Futebol Anônimos. Reunimo-nos na sala ao lado dos grupos que lutam contra seus vícios, pois, não pense o leitor, que somos resignados à nossa limitação.

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31/05/06 |
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As mães dos meninos do tráfico

Sobre o documentário de MV Bill

Dia das mães é meloso, retratos de mulheres felizes, mas não é assim para todas. Onde a “a bala come e a lei é do cão”, não há muito a comemorar. Recentemente, assistimos no documentário de MV Bill veiculado pelo Fantástico, à dura realidade de crianças e adolescentes que encontraram no tráfico o segmento social que os acolheu. Se é que algum dia tiveram uma figura paterna, dela já são órfãos. Esses meninos têm como seu “só a minha mãe, e esse come-chumbo aqui na minha mão”.

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17/05/06 |
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