Mãe só tem uma?
Sobre diferentes tipos de maternidade 02/05/07
Família, família. Papai, mamãe, titia. Almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania. Certos os Titãs ao descrever a família como uma teimosia da humanidade, pois se há uma instituição que resiste às mudanças sociais é a família em sua forma clássica, heterossexual, nuclear. Mas dentro desse dinossauro têm se gestado, de forma lenta e sistemática, várias novidades, em função das quais, de tanto em tanto, é preciso dar-se conta de que muita coisa já está diferente.
Mamma son tanto felice
Sobre as tristezas normais da maternidade
Dia das mães, todo ano a gente faz tudo sempre igual. Passados os ritos comerciais e gastronômicos, de tudo resta um pouco. São coisas não ditas, afeto que não se deixa encerrar, presentes de grego. Entre os silêncios, pelo cordão umbilical que nunca se corta transitam inúmeros segredos femininos, coisas que mulheres não passam de mãe pra filha, que não contam nem umas às outras, que ginecologistas não alertam e pediatras são obrigados a suportar. Dizem alguns que esses segredos visam preservar socialmente a maternidade, que, caso informadas do que nos espera, não a cometeríamos. Duvido. Dizem também que somos tagarelas e incapazes de guardar segredos, também não é bem assim.
O pai da insistência
Sobre o livro Meu filho, minha filha de Fabricio Carpinejar
É barbada ser pai quando os filhos são reféns do cotidiano, das suas idas e vindas. Não importa a hora e o humor em que se chegue, a criança está lá, independente do efeito de grandeza, prazer, temor ou embaraço que a presença do pai lhe produza. Minto. Ser pai é sempre difícil, mas mais ainda quando não se mora com os filhos. Nesse caso a negociação fica delicada, o pai tem que agradar para receber o dom da convivência. Se o pai é chato, casmurro ou põe limites, os filhos se esgueiram para longe, escondem-se atrás dos ressentimentos da mãe, chantageiam. Paradoxo insolúvel, pois pai que é pai não agrada, faz o que tem que fazer, duela a quien duela. Como então passar a necessária lição de vida num fim de semana alternado, na noite previamente estabelecida, em meias férias? É como sexo com hora marcada, fica estranho.
O que é que Chico Buarque tem?
Sobre o fascínio das mulheres pelo cantor
A presença de Chico Buarque em nossa querência causou o costumeiro frisson entre as mulheres. O modo como suas poesias tocam o público feminino, seus olhos claros e tristes, sua indiferença à histeria que eles causam, sua meninice tão máscula fazem dele um paradigma de homem, a régua com a qual medimos os outros. Todos os anos a Revista TPM brinca com um concurso que elege o “Chico Buarque do Ano”, óbvio que o próprio sempre encabeça a lista dos raros escolhidos para se comparar a ele. Mas afinal, o que é que o Chico Buarque tem?
Amiga, posso te dizer uma coisa?
Sobre a cruledade nas relações entre as mulheres
Não vacile, responda sempre que não! E jamais faça essa pergunta. Essa frase é senha para uma bomba. Imagine a cena: achamos que uma amiga é apagadinha ou o contrário, parece um pinheiro de Natal; ou então que ela namora alguém que é um atraso na sua vida, que é muito grudada na família, que está deprimida, escondendo-se em casa, que é covarde ou preguiçosa frente aos um desafios, ou ainda que é carreirista e ambiciosa demais, assim por diante.
A praga do casamento indissolúvel
Sobre a condenação do divórcio pelo Vaticano
Fique claro que não advogo em defesa pessoal, pois excentricamente mantenho-me casada com o mesmo marido. Mesmo assim fiquei pasma com a declaração do Vaticano, visando orientar os fiéis (sic), de que o segundo casamento é uma praga.
A volta do ano perdido
Sobre o aumento de um ano na duração do ensino fundamental
No final de 1971, já tinha estudado o ano todo para fazer meu exame de admissão, pois disso dependia a vaga numa boa escola ginasial pública, quando tudo mudou. A educação fundamental foi reduzida em um ano, meu Grupo Escolar criou mais séries, e fiquei ali mesmo. Essa brilhante idéia me permitiu escolher um destino e entrar na universidade com ridículos e insuficientes 17 anos, um ano mais imatura e confusa do que poderia ser. Cabe lembrar que um ano a mais durante a juventude, vale por uns cinco na vida adulta. Os primeiros tempos da vida são anos de formação, a vida é consumida com avidez, tudo se metaboliza, transforma, marca.
Uma verdade inconveniente
Sobre o livro Ele simplesmente não está a fim de você
Nós mulheres somos tão inteligentes que por vezes parecemos burras. Essa é a idéia que fica quando lemos um livro simplório e divertido escrito pelos roteiristas de Sex and the City, chamado: Ele simplesmente não está a fim de você. Ele sublinha, repetida e insistentemente, nosso hábito de recobrir amores frustrados com milhares de desculpas e explicações.
A esperança equilibrista
Sobre os 25 anos da morte de Elis Regina
São 25 anos sem Elis Regina. Ela legou um repertório escolhido e interpretado com tal paixão autoral que certas músicas são indissociáveis da sua versão. Partiu deixando em todos a impressão que perdemos um parente. A arte dela nos pega de diversas formas, mas em mim uma foi particularmente inusitada: quando me tornei mãe e me propus a entoar cantigas de ninar, imiscuiu-se entre as cucas e bois da cara preta “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, cantada por Elis.
Ainda há tempo, mas…
Sobre consciência ecológica e pulsão de morte
O alerta da ONU sobre o clima vem dizer o que já suspeitávamos. Nem mesmo furacões, maremotos, secas, enxurradas, derretimento das geleiras, além do incômodo do clima imprevisível têm sido suficientes para nos alertar da iminência duma catástrofe planetária. Continuamos vivendo como se tudo isso não nos dissesse respeito, como se fosse natural e inevitável. É hora de se perguntar: por que somos tão passivos frente a um clima de destruição? Infelizmente tenho uma sugestão de resposta.