Zero Hora
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Cobaias do amor

Sobre o amor dedicado aos animais domésticos

Sou cachorreira e gateira, não acho que tenhamos que escolher entre os dois. Além disso, apesar da minha completa e incurável falta de religiosidade, sempre pensei que agradeceria ao criador a invenção de um felino em miniatura, de ferocidade controlável. O gato é uma das perfeições da natureza, imagine ter uma pequena pantera tomando sol no parapeito da sua janela! Divino. Quanto ao cão, quando nos elege como horizonte da sua existência, é capaz de ser totalmente fiel e respeitoso. Essa é a experiência mais próxima que temos de ser deuses. Mas estamos nos mais óbvios, tem quem curte peixe, hamster, iguana, cobra, rato, pássaro, e cada um fará um discurso das razões de escolha do seu animal de afeição.

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30/05/07 |
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Ensina-me a ler

Sobre a morte do professor Sergio Fischer

Leitura e juventude não precisam ser antagônicas. Ao contrário, os anos de formação são os de maior absorção de referências culturais, é quando elas são mais marcantes e tem-se tempo e impulso de beber em grandes goles. Pena que essa gana de viver dos adolescentes encontre-se, via de regra, tão distante dessa fonte. Exceções à parte, no melhor dos casos, eles têm acesso ao cinema, a músicas mais complexas, a programas de tv menos trash. No pior, satisfazem-se com uma vida medíocre de diz que diz, fica não fica, vai não vai, num mundo simbólico da dimensão de um bairro.

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16/05/07 |
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Mãe só tem uma?

Sobre diferentes tipos de maternidade 02/05/07

Família, família. Papai, mamãe, titia. Almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania. Certos os Titãs ao descrever a família como uma teimosia da humanidade, pois se há uma instituição que resiste às mudanças sociais é a família em sua forma clássica, heterossexual, nuclear. Mas dentro desse dinossauro têm se gestado, de forma lenta e sistemática, várias novidades, em função das quais, de tanto em tanto, é preciso dar-se conta de que muita coisa já está diferente.

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02/05/07 |
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O pai da insistência

Sobre o livro Meu filho, minha filha de Fabricio Carpinejar

É barbada ser pai quando os filhos são reféns do cotidiano, das suas idas e vindas. Não importa a hora e o humor em que se chegue, a criança está lá, independente do efeito de grandeza, prazer, temor ou embaraço que a presença do pai lhe produza. Minto. Ser pai é sempre difícil, mas mais ainda quando não se mora com os filhos. Nesse caso a negociação fica delicada, o pai tem que agradar para receber o dom da convivência. Se o pai é chato, casmurro ou põe limites, os filhos se esgueiram para longe, escondem-se atrás dos ressentimentos da mãe, chantageiam. Paradoxo insolúvel, pois pai que é pai não agrada, faz o que tem que fazer, duela a quien duela. Como então passar a necessária lição de vida num fim de semana alternado, na noite previamente estabelecida, em meias férias? É como sexo com hora marcada, fica estranho.

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18/04/07 |
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O que é que Chico Buarque tem?

Sobre o fascínio das mulheres pelo cantor

A presença de Chico Buarque em nossa querência causou o costumeiro frisson entre as mulheres. O modo como suas poesias tocam o público feminino, seus olhos claros e tristes, sua indiferença à histeria que eles causam, sua meninice tão máscula fazem dele um paradigma de homem, a régua com a qual medimos os outros. Todos os anos a Revista TPM brinca com um concurso que elege o “Chico Buarque do Ano”, óbvio que o próprio sempre encabeça a lista dos raros escolhidos para se comparar a ele. Mas afinal, o que é que o Chico Buarque tem?

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04/04/07 |
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A praga do casamento indissolúvel

Sobre a condenação do divórcio pelo Vaticano

Fique claro que não advogo em defesa pessoal, pois excentricamente mantenho-me casada com o mesmo marido. Mesmo assim fiquei pasma com a declaração do Vaticano, visando orientar os fiéis (sic), de que o segundo casamento é uma praga.

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21/03/07 |
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A volta do ano perdido

Sobre o aumento de um ano na duração do ensino fundamental

No final de 1971, já tinha estudado o ano todo para fazer meu exame de admissão, pois disso dependia a vaga numa boa escola ginasial pública, quando tudo mudou. A educação fundamental foi reduzida em um ano, meu Grupo Escolar criou mais séries, e fiquei ali mesmo. Essa brilhante idéia me permitiu escolher um destino e entrar na universidade com ridículos e insuficientes 17 anos, um ano mais imatura e confusa do que poderia ser. Cabe lembrar que um ano a mais durante a juventude, vale por uns cinco na vida adulta. Os primeiros tempos da vida são anos de formação, a vida é consumida com avidez, tudo se metaboliza, transforma, marca.

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07/03/07 |
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A esperança equilibrista

Sobre os 25 anos da morte de Elis Regina

São 25 anos sem Elis Regina. Ela legou um repertório escolhido e interpretado com tal paixão autoral que certas músicas são indissociáveis da sua versão. Partiu deixando em todos a impressão que perdemos um parente. A arte dela nos pega de diversas formas, mas em mim uma foi particularmente inusitada: quando me tornei mãe e me propus a entoar cantigas de ninar, imiscuiu-se entre as cucas e bois da cara preta “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, cantada por Elis.

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21/02/07 |
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Ainda há tempo, mas…

Sobre consciência ecológica e pulsão de morte

O alerta da ONU sobre o clima vem dizer o que já suspeitávamos. Nem mesmo furacões, maremotos, secas, enxurradas, derretimento das geleiras, além do incômodo do clima imprevisível têm sido suficientes para nos alertar da iminência duma catástrofe planetária. Continuamos vivendo como se tudo isso não nos dissesse respeito, como se fosse natural e inevitável. É hora de se perguntar: por que somos tão passivos frente a um clima de destruição? Infelizmente tenho uma sugestão de resposta.

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07/02/07 |
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“Sua vida trouxe você até aqui”

Sobre a memória

Essa frase é o texto de um comercial. Na imagem que acompanha, um rapazote cabeludo, em idade de andar de ônibus, observa o que a propaganda anuncia como “Novo Prisma. Seu primeiro grande carro”. Atrás dele a vida é simbolizada por um bizarro e interessante grupo amontoado: família, amigos, amores, colegas de diversas fases da vida, médicos, religiosos, professores, mas também há personagens ficcionais, representantes da cultura pop e de comerciais.

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24/01/07 |
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