Zero Hora
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Escolha sua cena

Se uma vida fosse um filme.

Imagine se você tivesse que escolher apenas uma cena para representar sua vida, uma pequena seqüência que coubesse em um filme de uns 2 ou 3 minutos no máximo. Essa cena seria a única que você levaria consigo, para passar em companhia dela, e somente dela, por toda a eternidade. Qual seria?

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06/02/05 |
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Reality Fórum

Sobre o Forum Social Mundial de 2005

Curiosamente chamamos de reality show a um programa cujo enredo transcorre numa bolha utópica, cujos personagens são pessoas de baixa densidade subjetiva, nos quais quase todas as variáveis são manipuladas para produzir um efeito previsível. Não estaríamos num território mais próximo da ficção? Ao mesmo tempo, muitos acredita-se que um evento como o Fórum Social Mundial, que hoje se inaugura, é uma convenção de sonhadores que carecem um bom banho de realidade. O FSM, tanto este como suas edições anteriores, reúne de fato sonhadores, porém, se o leitor freqüentar as suas atividades ou se informar a respeito delas, verá que o evento é acima de tudo uma convenção de práticas sociais, via de regra inéditas e inspiradoras. Precisamos rever nossos conceitos sobre o que seria real ou irreal.

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26/01/05 |
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O encanto do Japão

Sobre Mangás e o fascínio dos jovens pela cultura japonesa

Mangás não são uma parte da blusa com um acento fora do lugar. Esse nome designa as revistas de histórias em quadrinhos originárias do Japão, que caíram nas graças de um extenso número de jovens. Uma população muito maior do que aqueles que não convivem com essa faixa etária poderiam supor. Essas revistas possuem desenhos em geral muito bonitos, onde há heróis e heroínas de olhos imensos, lutas de prestígio, magia e toques de ficção científica. Esses personagens podem até viver aventuras fantásticas, mas são muito mais humanos do que os dos comics de origem americana, pois são sujeitos à inveja, à autocomiseração, têm problemas de auto estima, crises de raiva, momentos de egoísmo e outras realidades psíquicas. Para ler um Mangá, você deve começar de trás para frente e da direita para a esquerda, conforme a escrita oriental. O gênero é de leitura árdua e lenta para os não iniciados, pois para compreender as histórias é necessário conhecer certas chaves, algumas delas acessíveis somente para aqueles que são familiarizados com a cultura japonesa e habituados a esse tipo de publicação. Juntamente com essas revistas, esse grupo de jovens admira o código dos samurais, suas armas e utiliza palavras orientais como codinomes nas suas participações na rede, muitos inclusive têm estudado japonês. E eles não estão sós: as grandes produções cinematográficas já incluem as lutas e personagens orientais entre os itens obrigatórios.

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12/01/05 |
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Viver no zapping

Sobre o hábito de ficar trocando de canal como metafórico de nosso modo de viver

A vida é um capital de tempo que recebemos em usufruto. Procuramos investir nela o melhor possível, mas raramente estamos satisfeitos com os resultados. Ao cada fim de ano, assim como no encerramento de cada etapa (aniversários, formaturas, casamentos, partidas, separações, aposentadorias, enfim, com quantos fins temos que lidar!) somos impulsionados a um espírito de balanço, no qual, contabilizamos perdas e ganhos, assim como o aproveitamento do tempo e das oportunidades. Sabemos que nossas atitudes determinam o destino que teremos, o que é uma consciência importante de se ter. Graças a isso, dificilmente um de nós atribuirá suas desgraças ou conquistas a alguma divindade ou ao acaso, sem sequer perguntar-se como influenciou no processo. Somos tão cônscios de ter um papel ativo na vida, que até quando ficamos doentes tendemos a nos culpar pela desgraça. Mas o maior problema é quando isso nos paralisa: face às oportunidades que temos ou que poderemos criar, queremos escolher tão bem, que entre todos os pássaros voando, ficamos sem nenhum na mão.

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29/12/04 |
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Liga pra mim!

Sobre o frenético uso de celulares

O leitor certamente terá observado a incrível epidemia de propagandas de celulares nos meios de comunicação, por certo exacerbada nesta véspera natalina. Quiçá, atendendo a tantos apelos, adquirirá, presenteará ou receberá um telefone portátil, nem que seja em nome de um modelo novo, que agora chuleia, caseia e prega botão. Além disso, estará acostumado a trocar telefonemas com filhos, consortes ou mesmo de trabalho, que exigem, a qualquer instante, que se informe a própria posição geográfica, assim como qual atividade está se realizando e com quem. Qualquer encontro entre seres humanos agora inclui mais interlocutores além dos que estão fisicamente presentes, pois participam deles todos os que ligam para eles e os que telefonam para as pessoas que estão no mesmo ambiente. O celular dos filhos e da pessoa amada é um localizador, como os chips que se coloca em animais selvagens ou em extinção para monitorar movimentos e assim cuidá-los melhor.

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15/12/04 |
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Super-Heróis barrigudos

Sobre o filme infantil Os Incríveis

O Sr. Incrível era um super-herói. Com sua enorme força livrava a cidade do perigo, mas não conseguia derrotar o pior vilão: a vida real. Por revezes do destino, teve que abandonar a carreira de herói. Casou com a Mulher Elástico e foram viver num subúrbio americano. Criou barriga, empregou-se numa companhia de seguros picareta, mas ficou desempregado por não querer enrolar os clientes. Tiveram três filhos, que se sentiam desajustados, tornou-se um homem deprimido e um pai distraído. Reviravoltas lhe permitem recuperar a carreira de herói, a admiração dos filhos e o desejo da mulher. Essa é a trama do filme infantil Os Incríveis (direção de Brad Bird, Pixar Animation).

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01/12/04 |
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Máquinas mortíferas

Sobre a violência no trânsito

Mais um feriadão, mais uma cota de almas sacrificadas aos deuses do automóvel. Motoristas bêbados, excesso de velocidade, ultrapassagens tenebrosas, sem contar as estradas em más condições. Quem dirige com cuidado está cansado de ver os fominhas pressionando todo mundo para chegar antes. Será? Não creio que seja nos minutos a menos de trajeto que um afobado consegue sua glória. Ela está ali mesmo, disputada na arena do asfalto, enquanto ele mostra aos outros a potência de seu motor ou a premência de sua vontade.

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17/11/04 |
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Novela de sonhos e pesadelos

Sobre o livro Breve Romance de Sonho de Schnitzler

Escrita pelo vienense Arthur Schnitzler em 1918, a história de Fridolin e Albertine, um jovem e bem estabelecido médico e sua esposa, é quase isenta de ação, mas intensamente movimentada na imaginação. Num momento apaixonado, o casal decide compartilhar fantasias e sonhos, com os quais praticam o jogo, tão comum, assustador e atraente, de provocar-se através do ciúme. Na vida real, sempre parecemos ficar muito assombrados quando nos pilhamos amando de forma tão estranha: causando brigas, sofrendo e impingindo dores naqueles que mais nos importam. Surpreendemo-nos também quando descobrimos que somos capazes de criar tantos enredos imaginários, os quais envolvem outros personagens numa relação que devia ser íntima e dual. O mais comum é o recurso de utilizar-se fantasia de traição para temperar nossa cena amorosa.

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11/11/04 |
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Gente Plastificada

Plastificada sobre cirugias plásticas e a obsessão pela juventude eterna

A charge é da Maitena. É sobre um evento que está se tornando cada vez mais comum, que é o de não conseguir definir a idade de uma pessoa. Dois homens se encontram, um está acompanhado. O outro observa: –Puxa Machado, que bem acompanhado você está! Vem cá, desculpe a indiscrição, mas hoje em dia nunca se sabe: é sua filha ou sua mulher? E o primeiro responde: – É minha mãe. O desenho da tal mãe é eloqüente: olhos orientais, nariz de Michael Jackson (after), corpo lipoescultural, lábios silicarnudos. A piada ilustra a fantasia de embaralhar as gerações, mas o efeito prático é mais para boneca do Museu de Cera de Madame Tussauds.

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03/11/04 |
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Bastidores da psicanálise

Sobre o livro Cartas a um Jovem Terapeuta de Calligaris

Há uma velha história, contada como verdadeira, sobre certa bizarrice de um notório psicanalista inglês. O referido senhor considerava o setting de uma análise (seu entorno: como o espaço físico do consultório, a roupa do profissional, os rituais de entrada e saída da sala, etc.) como sendo necessariamente imutável para que prevalecesse a subjetividade do paciente. O analista deveria ser como uma folha em branco, onde pudesse brilhar o mais minúsculo ponto marcado. Para tanto, diz-se que ele teria uma série de conjuntos de roupas iguais, desde o terno e camisa, até meia e gravata, com os quais trabalharia. Essa história casa muito bem com uma imagem pública atribuída aos psicoterapeutas em geral, particularmente aos psicanalistas, segundo a qual se supõe que a profissão obriga-os a uma comunicação lacônica e a ostentar uma face congelada.

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20/10/04 |
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