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Dentro do mar de Lya

Sobre o livro Mar de Dentro de Lya Luft

Quem escreve resgata e recobra, inventa ou transfigura.Palavras de Lya Luft em seu último livro,Mar de Dentro, supostamente um volume de memórias. Sua história é de uma família estável e uma menina amada pelos seus. Não há fatos, há impressões, não é romance nem biografia, mas significado e ressonância. Não há referências claras de tempo e espaço, há sucessão de descobertas, os fatos são datados pelo tamanho dos objetos ao seu redor. Quando pequena, foi intensa, seus relatos são de pensamentos profundos, insônia, angústia, medo do abandono, devaneios, autocríticas.

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26/06/02 |
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Papai Heavy Metal

Sobre o reality show Os Osbournes

Ozzy Osbourne foi excessivo em tudo que pôde. Sua carreira de “Príncipe das Trevas” foi marcada por momentos de loucura, todos eles colocados ao serviço do seu personagem: um sujeito satânico, de uma oralidade monstruosa, descrente de toda fé. Seus episódios de arrancar cabeças de animais com os dentes, sabiamente divulgados pela gravadora, eternizados pelo entusiasmo dos fãs, mais parecem os de um homem subjugado por uma imagem que o dominou tanto quanto o álcool e as drogas.

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12/06/02 |
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Para aquelas que não receberam flores

Sobre as mulheres que não tiveram filhos em 15/05/2002

No dia das mães todos têm motivos para dar flores (às vezes in memoriam), não há quem não teve algum tipo de mãe. A onipresença do tema da maternidade nesta época do ano gera constrangimento para as mulheres que deram mas não receberam flores. Bombardeadas pela mídia, pela imperativa cobrança de crescei e multiplicai-vos, fica difícil não se sentir uma mulher pela metade. A maternidade é vendida como o coroamento da carreira feminina. 

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15/05/02 |
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O preço da genialidade

Sobre filhos geniais em 01/05/2002

“As crianças são as mensagens vivas que enviamos a um tempo que não veremos”, escreveu Neil Postman. Nelas fazemos as maiores apostas, delas esperamos grandes feitos. Outrora grandes homens construíam grandes nomes,funcionando como um guarda-chuva que abrigaria as gerações vindouras. Hoje quem quer ser importante investe pesado no aperfeiçoamento da sua prole. Paradoxalmente, nos vemos nos sucessos ou fracassos de nossos filhos, antes era ao contrário. Sabemos que tudo o que fizermos ou pensarmos influirá e nunca tivemos tanto medo de errar.

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01/05/02 |
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Esperando o clone

Sobre clonagem de humanos

Um médico anuncia que está por vir o primeiro clone humano e o mundo reage como se viesse o anticristo. Os jornais estampam as posições alarmadas do Papa, de Bush e a comunidade científica é chamada a explicar-se. Já o clone demorará um pouco mais e nascerá, coitado, todo errado. Mas por que ele nos assusta?

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14/04/02 |
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Éramos extraterrestres

Sobre o filme ET de Spielberg

A reestréia do “ET” de Spielberg vem para despertar em novos públicos o que para muitos foi inesquecível. Sempre é bom lembrar que não estamos sós no universo, mas o ponto alto deste filme é sua abordagem da infância. Spielberg foi genial ao colocar o menino e o extraterrestre como se fossem almas gêmeas.

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03/04/02 |
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Sou visto, logo existo

Sobre o Big Brother e Reality Shows

Quando Orwell escreveu 1984 ainda tínhamos quem olhasse por nós. A guerra fria disputava cada centímetro da terra para sua visão de mundo, éramos como filhos de pais separados que discutem quem manda mais. Ele previu a continuação do totalitarismo sob a forma tecnológica do olho que tudo vê: o “Grande Irmão”. Antes era Deus, para Orwell era uma televisão. Hoje estamos sós. 

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20/03/02 |
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Presentear

Sobre o consumo natalino

A religião cristã ganhou, pelo menos nos rituais, a guerra das religiões e colonizou o mundo ocidental. Ninguém mais está livre do Natal. Além da refeição opulenta, faz parte da noite a troca de presentes, hoje uma prática burocrática, estereotipada e universal. Por isso não são insignificantes as acusações de que a verdadeira celebração do Natal seria ao “deus do consumo”, cultuado no templo do Shopping Center, com a imolação sacrificial do décimo-terceiro salário ou do cheque especial. 

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18/02/02 |
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Mi Buenos Aires querido

Sobre um período de decadência portenha em 09/01/2002

Habituamo-nos a criticar argentinos em geral e portenhos em particular devido à sua pretensão de serem europeus, acima de nossa condição latina, pobre, mestiça e calorenta. Por outro lado, sempre que o bolso permitiu, corremos às suas ruas largas, livrarias, cafés, parques e museus para respirar um pouco do velho mundo. A Argentina que naufraga hoje é também nossa, não só porque os modelos econômicos se assemelham, mas porque ela é um lugar psíquico para os brasileiros. Vê-la tão triste é também roubar a alegria de lembranças de luas de mel e viagens que tantos brasileiros fizeram, de tantos tangos escutados.

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09/01/02 |
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MINI-MONSTROS

Sobre o filme Monstros SA

Crianças são apaixonantes, cheias de frases e gestos surpreendentes, amolecem a alma, despertam ternura, conectam qualquer um com sua breguice interior. Crianças são insuportáveis, inconvenientes, barulhentas, sujas e cada vez mais espaçosas.Crianças são anjos e monstros.

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12/12/01 |
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